Sobre quem nada tem para dizer

Após um interessante período de férias, segue-se um intenso período de trabalho. É terrível a ressaca que se sente ao reiniciar algo que se deixou, os músculos obedecendo com extrema dificuldade, a mente tentando relembrar-se dos passos mecanizados pela repetitividade das tarefas. Mas soube bem o regresso, o reencontro com as caras que agora fazem parte da minha vida. Não esquecendo as restantes. Porém, estas são as que me suportam diariamente. Mas não correm perigo de vida. Só o fazem oito horas por dia. Podia ser pior. Podiam suportar-me como os meus pais me suportaram anos a fio, sem perder a paciência, mantendo o sorriso no rosto e a calma na mão, resistindo ao movimento ascendente que a levaria a puxar a orelha ou mesmo a avermelhar o rosto, branco como a neve, sentindo a falta do sol do Verão, da areia da praia, do protector solar, da água fria do oceano. Aqui estou, sem nada para dizer, somente gastando as palavras, como se fossem minhas súbditas, chamadas uma a uma, articulando-se entre si, criando harmonia, criando discurso, divagadas pela mente que as ordena.
Mas com sensatez lhes agradeço a presença e a ajuda neste post, pois sabiam que, mesmo não tendo nada para dizer, algo estava a ser dito. Está aí para quem quiser perceber, nas entrelinhas.